segunda-feira, 30 de abril de 2007

salve salve, culpado do sorriso.




leva-me para esse teu mar, caro amigo, caro jorge, estou em perigo. aqui os ventos pararam e não mais consigo voar. mas sei que soprada pelo vento que te infla a pansa, posso tentar. abro os olhos e deparo-me com as mesmas imagens que me fizeram rastejar. mas aí, como uma chuva no sertão, tu apareces. colorindo de vida os meus lábios, fazendo meus dedos gladiadores céleres. a poesia despida de maldade, enlaça teus cabelos e derrama-se por tua face. hoje a vida sorriu-me um pouco e foi de ti que ela arrancou esse sorriso. e a droga maravilhosa que és, faz-me sedenta de palavras tuas. no mar de ondas bravas e brancas espumas, boiará nosso pensamento. pensamento que só é nosso por nosso não ser. como diz o firmamento. e dançaremos, fazendo inveja às Damas e seus cavalheiros gloriosos. Molharemos de poesia os chãos. Suor onírico de festejosos corpos. Ah, obrigada! Hoje estou bem e a culpa disto em ti está carregada.

ao Amor. à Eric.à Eros.


Sois a minha alma
Canto à tua Poesia
Nas margens de um rio sem peixes
Com cálices rubros
Rosáceas e perfumes
Olhos de gueixa

Voais tão longe quanto meus passos
Marcando com suspiros o meu viver
Deleites e entressonhos. Nossos
Lindos dias e noites
Teu alvorecer

Banhai-me uma vez mais!
Com tua seiva Amorosa
Arranca-me as plumas das asas
Enfie em meu peito a espada
Da tua Poesia de licores e respostas

Embriaga-me com teu profano ser
Asas marcadas por unhas de Amor
Um Amor que não é meu
Mas é nos vossos olhos que estou
Construindo luzes no breu
Nostalgia que em mim deixou

Nefelibatas, seguimos!
Manchando o Sol de vermelho-sangue
Bebo das tuas mãos de poeta-irmão
A vitalidade de uma vida por morrer
Amante de horas distantes
Ah, amado amigo
Em vós quero perecer









saudades, Eric, saudades...

sábado, 28 de abril de 2007

s-i-n-a.


As ruas hoje me procuraram pra contar uma história que tentava ser diferente. Soltei o peito e cantei pro mundo tudo que eu tinha guardado. Ele sorriu, o mundo sorriu. Não um sorriso bonito, com grandes dentes brancos. Era mais um sorriso sarcástico, daqueles que eu Te imagino fazendo. Eu percebi, pelo canto dos olhos. Mergulho fundo no que se pode dizer simbolismo decadente de Pessanha. Um pedacinho de Tayná em cada esquina suja não é nada bom. Mas amanhã o lixeiro passa e me leva pra longe do caos citadino. Eu amortecerei o mastigar de um mendigo, embriagarei um faminto e adormecerei a língua de uma criança. Servirei, enfim. Não, vocês não entenderiam. Nem a lua compreende. Mais tarde irei comprar Caio numa lojinha dessas que não têm quase nada. Será bom. Lerei 'Dispersos' em voz alta, talvez Tu escutes. No mar lá de fora eu Te derramei. Ah, meu amor, me ajuda a sair daqui. Os olhos do vento só não parecem mais assustados que os meus. Quem ousasse olhar-me agora ficaria sem durmir por umas duas noites. Angústia. Amar não cura amargura nenhuma. Cortem minha língua para que eu não mais fale. Abro-me em silêncio. Arranquem meu coração de mim para que ele não mais bata aqui. Mas que o sirvam para Ti. Ah, mas que merda, Tu és vegetariana. Não adianta tanto desespero. Não adianta tanto grito. Anda na água! Cospe fogo! Vira circo. Lá podes ser cigana e eu palhaço. Posso ser o Pierrot, Tu a Colombina e ele o Arlequim. Ou então, eu podia só assistir. Poxa, se tu trabalhasses no circo, eu viraria elefante só pra te acompanhar. Ou um leão, pra te abocanhar. Eu seria tudo mesmo sendo o nada. Cheiros de passado. Cores gastas. Papel rasgado. E as letras ficam marcadas no meu rosto. As peles cairam no chão. Camaleão, camaleão. Mata tua sede em mim que eu assassino a minha vida nos teus braços. Aço. Aço. Vibra em mim.

Poema à duas mãos.

Ainda vou me apaixonar por essa doença que vem dos teus olhos
Pra dentro de mim e se torna amor por ser tão câncer
E me alimenta de dor e medo por passar tanta fome
Depois de ver tuas fotografias, entendi o significado de Deus
Ele deve existir em alguma parte desse teu corpo febril e puro
Puro demais para sentir essa dor que nunca escondes

Ainda me perco em tua pele
Sem salvação ao derramar-me em teu corpo
Perfurando tua alma com flores
Caindo em pranto, pela ausência tua
No cálice do desejo nosso
Tão meu, que perco-me na loucura
De em teus braços, divina busca
Descansar a doença de minha poesia nua

Quero me vestir com tuas pétalas, flores saem dos ovos
Quebram a casca e a deixam pra trás
Tua pele quer nascer, por mim ela poderia cobrir o universo e as minhas paredes
Dá tua carne branca para meus negros devaneios indecentes
Tu és o cálcio de meus ossos
O sândalo que mancha de perfume o meu machado azul
O charme de tua tristeza revela-me a criança em ti
A lucidez te equilibra, quero uma queda sem fim
E um sorriso caso tenhas algum pra me dar

Então abra os braços!
Ouça o ruido das minhas asas
Nas ruas vazias de vida
No chão e nas vidraças
Estarei a observar-te
Colherás a minha vida derramada
No teu manto de virgem estuprada
Das viagens que nunca fiz
Posso subir até lá
Mirar as nuvens e te derramar até dormir
Ou gozar.
Ávidez planejada
Pedras marcadas
Uma ferida aberta
Subimos um pouco mais...

É assim que eu te quero, forte e instantânea
Com sabor de nuvens e olhos de lua
É assim que eu te quero pra mim
Suave e jovem como as noites mais tristes que já vi
Eu tenho ciúmes da solidão
Que anda tão próxima de você
Enquanto eu estou tão distante
Costure seus lábios no meu desejo
Porque ele é teu
E será sempre que quiseres assim
Domesticá-lo


(...)



Poema feito por Marcos Angeli [o gozo] e Eu [Tayná Borges]

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Para a musa que quis amar.


Hoje resolvi que não vou escrever pra Ela.


Não reclamo das minhas feridas que doem tanto sem que tu saibas. Nem das coisas que eu deixei de te dizer. Meus olhos de criança assustada fazem minha mãe chorar. Não chora, mamãe, não chora. Ela, então, colhe minhas lágrimas e planta um jardim tão bonito no quintal sujo. Não quis fazer isso, não quis te preocupar. Como eu poderia saber que não seria do jeito que todos queriam? É, eu não sirvo pra amar outra pessoa. Tayná, tu só és capaz de sustentar a vida de Aline. Enfim, sou é? não sei. Mas, poxa, eu tentei. Tentei ser o fio de cabelo preso nas tuas coxas, te protegendo do frio que eu não conheço. Tentei socar a minha cara várias vezes por não estar conseguindo. E desperdicei. Gastei tudo que podias ter entregado às moças tão geladas quanto tu. Olha, hoje a Lua tá tão bonita. Bati uma foto dela, escondida entre meus seios. Não, hoje eu não derramei por querer, tiraram de mim. Hoje não foi um dia bom, não foi. Queria um dia não querer mais nada. O cheiro de vida me faz espirrar. Naquele espaço existe algo alto demais para que consigamos escalar. Longe, corre. Me faz cuspir tudo que suguei de ti, faz! Beijo os pés do teu amor e agradeço por não ter sido a mais rara. Ah, o vento hoje contou-me coisas que não ias acreditar. " eles não fazem isso porque querem.", "ela tem que fazer uma lavagem", "esconda os remédios dela"... eles achavam que por estar de olhos fechados, eu estava domindo. Não. Eu nem durmo mais. Alguém quebrou aquele copo e eu bebi os cacos. Conte até mil e de novo, de novo, de novo. Faça um pedido ao vento que eu retiro do tempo tudo o que causei. Não há cura, musa, não há. Mas tu nunca me amaste, não do jeito que pensas amar. Não. Eu provavelmente não amei também. Mas é experimentando que se conhece o sabor. Quantas vezes já te mataram? É bom viver pra morrer, não é? Eu acho. Ma eu ainda acho que gostei demais de ti. Meu pretérito. Meu pretério mais que perfeito.

quarta-feira, 25 de abril de 2007

estranho acaso.

Um dia eu te encontro. talvez daqui há 4,7, 10 anos, mas encontro. não sei como eu agiria. provavelmente, te observaria de longe. repararia em tudo aquilo que não pude até hoje. nas tuas manias, no jeito lindo que deves ter de amarrar os cabelos e no teu caminhar. ah, o teu caminhar! lento? rápido? não sei, mas reconhecerei na mesma hora. aguçarei os ouvidos para tentar alcançar a tua voz. deliciarei-me no teu sotaque que, com certeza, estará diferente do que eu conheci. os teus dentes imperfeitos e teu sorriso de musa doente. aquelas mãos tão delicadas, com unhas roidas ou não, acariciando qualquer parte alva do teu corpo. estarás sozinha ou acompanhada? fazendo nada ou esperando alguém? escrevendo ou cantando? fumando, definitivamente. percorrerei cada detalhe teu, beijando tua pele com os olhos e dando-te Amor com a brisa.

Quando me aproximasse, seria discreta. provavelmente, pediria que alguém desse-te um bilhete com algo como "estranho acaso". ficaria quase escondida, mas não tanto. num lugar estratégico. onde eu pudesse olhar-te e que, se prestasses mais atenção, poderias ver-me. sei que ficarias curiosa, posto que és uma das criaturas mais curiosas que já conheci (apesar de ser capaz de guardar segredos como ninguém!). olharias para um lado, para o outro, balançando os cabelos de entropia e fazendo-os dançar ao som da vida. irás atrás de quem deu-te o bilhete mas, por sorte, esta pessoa estará aconcelhada a apenas dizer : " é uma moça e uma ponte de suspiros." Ficarás irritada, bem sei. Eu, então, poderia dizer que mandaria entregarem-te um vaso de orquídeas mas, bem, não sei se terei dinheiro ou uma floricultura por perto. Realmente espero que não estejas esperando ninguém, para que eu possa saborear aquele momento do jeito que esperei por toda minha vida.

Penso, penso, penso e não sei como te abordaria. Abordar assim, de me mostrar mesmo. Sei que estaria trêmula e contendo-me ao máximo para não chorar. Vamos fingir, então, que estás mesmo sozinha, apenas ali à deriva. Eu chegaria tímida, dando passos lentos e curtos. Pararia na tua frente ou um pouco do lado e diria teu nome, com uma voz fraquejante. Levantarias os olhos e eu queria morrer agora para poder sequer imaginar a tua reação. Não esperaria que falasses, fingiria não estar tão abalada e perguntaria " não quer sair daqui e dar uma volta?". Se aceitasses, andaríamos. Caso estivesse quente, levaria-te para dentro de algum lugar refrigerado, visto que passas mal no calor (lembro de como me preocupava com essa porra de calor). Primeiramente, eu ficaria sem saber o que falar. Esperando que o decorrer dos segundos nos levasse à algo.

O que nós conversaríamos? Seríamos capazes de nos olhar nos olhos e não chorar? Poderíamos nos despedir, depois disto? Enfim, acho que diria que ainda te amo, roubaria-te um beijo (mesmo que ganhasse um lindo tapa na cara depois) e sairia de lá, deixando-te na mesa.


Andaria até a rua, despiria-me toda e jogaria-me na frente de um carro. Ou, subiria as escadas do prédio mais alto nas proximidades e voaria, sem minhas asas. Que teria deixado alí, contigo, na mesa dessa cidade que não conhecemos ainda.









"Aos caminhos eu entrego o nosso encontro" _C. F. Abreu_

terça-feira, 24 de abril de 2007

wake up, number 37.


hoje eu vi os cacos, derramados bem na minha frente. olhei uma vez, depois outra. na mente a vontade já contaminada. juro que tentava tirar os olhos dali. abstrair-me no timbre que doía em meus ouvidos. you're making that face that i like and you're going in in for the kill kill, for the killer kiss kiss, for the kiss kiss. eu cantava e tirava os olhos de lá. mas alguma coisa puxava-me e quanto mais eu resistia, mais aqueles pedaços de vida transparente, faziam meus olhos brilharem. então, não resisti.


lentamente -pois sou mesmo a pessoa mais lenta deste mundo- puxei as pernas para perto de mim. puxei pelas calças, como se não conseguisse mexer as pernas. desamarrei o primeiro laço, o do pé esquerdo. fui folgando o tênis. mais e mais. após este movimento simples, já estava só de meia naquele pé. minha meia é branca com alguma coisa escrita em laranja. é daquelas meias pequenas, que vão até o tornozelo. repeti tudo no pé direito. laço, cadarço, meia. parei, por um instante, para observar meus pés assim, nus e cobertos ao mesmo tempo. achei até bonito, um bonito sonolento (meias sempre me trazem a imagem de cama - e sim, Tu estás lá). então, tirei-as. apareceram os dedos. tão alvos que o vermelho das unhas parecia estar em neon. mexi os dedos e senti cócegas que quase me fizeram sorrir. mas eu disse quase.


enfim, puxei a blusa para baixo. a minha blusa bege mais parece um disfarce de asas. apoiei as mãos no chão sujo, esmagando uma formiga. reparei, neste momento, que tinha escrito no dorso da mão esquerda 'uma desgraça, meu amor'. um dia, um dia tatuo esta frase. achei que aquelas palavras eram como uma trilha sonora. e ao pensar nisto, tirei os fones do ouvido. you think the world is ending right now. soou longe. fiz novamente força nas mãos enfadadas e levantei-me. olhei ao redor. a rua estava agitada, carros cantavam com suas vozes simétricas, telefones e seus pássaros polifônicos, pessoas e seu caminhar pobre.


já com os pés completamende despidos, andei para a rua. desci os degraus da pequena escada e sorri para mim mesma. o chão estava morno. aqui nunca é frio. fechei os olhos e pus-me a andar mais. foi aí que então que o senti. senti o primeiro pedaço de vidro. cheguei a pensar em recuar, mas não, não! a vontade de marcar o chão com pegadas vermelhas (amor) era maior. aí inspirei fundo e baixei o peso do corpo naquele exato ponto. entrou, entrou fundo, rompendo as camadas de pele. um pouco de mim já começava a molhar o chão. comecei a balançar o corpo. pra lá e pra cá. je t'aime, moi non plus. mãos na própria cintura. cabelos beijando o vento. e os pés, os pés não paravam. ah, eu doia gostoso. tudo do jeito que eu queria. as pessoas na rua chamando-me de louca e eu a dançar ali, com os vidros. um, dois, três. um litro de uma vez. o chão cobriu-se de um manto vermelho e eu começei a fraquejar. cambaleava, cambaleava mas não caia. até que tentei pular, ou fui puxada por algo. e, perdendo o equilíbrio, caí.


de boca no chão e achando que o sangue era gozo, comecei a rastejar. enquanto rastejava, feito uma míope sem seus óculos, vi, refletido num caco, o teu rosto. céus, eu comecei a escorrer mais ainda. não tinha forças para virar-me, não conseguia. e eu sentia que ia explodir. oh, mon amour. joguei meu resto de força para frente e os cabelos para trás. num esforço desumano, virei o pescoço. paralisei. era mesmo tu, lá, a olhar-me junto da multidão. riste e com dentes amarelos disseste 'eu não me queixo, eu não soube te amar'.



então, virou de costas e eu só pude observar o branco da tua blusa confundir-se com os faróis acesos.

segunda-feira, 23 de abril de 2007

love you forever, but you're driving me insane.


o mofo das esquinas. lá está o teu sorriso e os beijos outrora meus. correm por lá, também, as pernas que dexei de olhar, por estar abstraída nos teus traços coloridos num papel fino demais. ouço tudo aquilo que eu disse. te descubro como uma narcisista bipolar e depressiva. era tão melhor assim. e tu, querido, podes ter o sorriso e o sexo mas eu, bem, eu tive a dor, a fragilidade, os medos, as lágrimas. eu tive a vida e tu só tens uma máscara. não me queixo deste um ano e um mês. meu deus, me orgulho. esse tipo de orgulho que desce pela garganta e molha o chão. é tão claro. dias assim eu nunca vou perder, eles só acontecem uma vez no ano. durante horas de sufoco pagão, eu olho minhas mãos fracas e choro de medo. a poesia dói, dói muito. não quero mais jogar-me no rio de navalhas. não quero teu sorriso nem nada. quero o ventre meu e alguns cigarros. nascer pra vida, enquanto morro pro amor. viro páginas. sopro abraços. mas nada chega. nunca será o bastante. não é? será que lembras? não sei. não sei. provavelmente não. mas é na cama que mais te sinto. ah, meu amor, a felicidade te estraga.

domingo, 22 de abril de 2007

lá! viu?


naquela manhãzinha feia, eu vi nuvens em forma de dragão. eles incendiaram todas as minhas fotos, só ficou esse mural aí. com um pouquinho de tudo que me constrói. eu sei que faz pouco tempo que esse dia aconteceu. voam livres, os meus versos brancos. acordes perdem-se nos meus caminhos. chora, mocinha, chora. amor é pra isso mesmo.


nunca sabemos o que dizer nas horas em que devíamos dar um discurso. perdi quase todas as minhas roupas e vago pela casa ouvindo adriana até me sentir estuprada pela voz tão tristemente doce que ela tem. meudeus, como alguém pode ser capaz de quebrar o coração da adriana calcanhoto? tem gente pra tudo nesse mundo. mesmo.


tem até gente que me ama, sabia? é, juro. e olha! tem mais! tem gente que te ama, apesar de tudo. não é um absurdo? merda, esse é mesmo o mundo. mesmo-mundo-mesmo-mundo-mesmo-mundo. e não, sem tua presença esse mesmo-mundo nunca será o mesmo.




e olha, acho tão bonito:


ando esquecendo-te de manhã em manhã

tomando guaraná e ouvindo a Elis

sábado, 21 de abril de 2007

tayná, a velha safada.

sobe e desce
vê se desaparece.
na minha esquina tem sempre um caco
de vidro, o teu sapato.
a poesia marginal só corre
quanto mais te vejo
mais escorre
não quero mais ações eruditas
vadia
vadia
vadia.

odeio você.




era o fim, é o fim, mas o fim é demais também.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

enfim.


sobraram as migalhas. eu corri, corri e corri, tentando beijar o ar com os cabelos soltos. ouvi um murmúrio tão barulhento quanto os meus pensamentos em brasa. continua, continua. não pára. e as minhas palavras cuspidas fluem como flores mortas, arrancadas das raizes. se eu pudesse, não pediria. drenaria o sangue para fora de mim e alimentaria tua fome de vampiro.

calçadas descalçadas. meus pés nus dançam sobre as bolhas róseas da minha pele. aperto os espinhos do cacto e nada, nada. as línguas queimam no chão derretido e eu grito e grito esperando ecoar a tua voz. lembra daqueles livros que me indicaste? ah, pequena, lê esse, é tão bom, me inspirou tanto. e eu, feito um cachorrinho adestrado, ia correndo -sim, correndo- pra livraria mais próxima comprar o maledeto. e sabe, nem sempre eu gostava. mas lia, lia até o fim. beijando o teu jeito amargo de dizer 'cretina'.

e a sina? a sina? acabou assim, do nada? não me convences. continua a foder com a tua vida, como sempre. e isso é tão bonito. tu és tão linda em toda essa tua feiura descabelada e com sorriso esvaziado. e o estômago? o strogonoff de soja? as berinjelas? o chocolate? oh sim! agora é só cerveja. i see. mas, meu deus, e o lítio? acabou? que bom, que bom. ou não.

pergunto, pergunto sim. só porque sei que tu provavelmente nunca vais ler e sequer dar-se-á o trabalho de responder. e como uma menina resmungona, eu diria ' não queria mesmo.' ah, btw, escrevendo pra ti, fodo com a minha vida. mas me dá poesia, sabe? "todo poeta só é bom se for triste". é tão verdade que lembra dele. dele que tem um Ela que dói tão lindamente nele quanto em mim.









ah, hunny bunny, deixa disso e vai foder com aquele homem-músculo, vai.
mas ó, a delicadeza, é comigo.

quinta-feira, 19 de abril de 2007

ah, meu, foda-se.


eu podia gritar todos os palavrões do mundo. vadia, escrota, filha da puta, boceta, putinha. nunca seriam o suficiente. nunca expressariam esse amor/ódio que só ele e eu podemos sentir. e eu cansei das palavras bonitas, pelo menos por hoje. quero não dormir e acordar cortando as gengivas.









enfim, é tudo feminino. feminino.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

o anel que tu me deste era de vidro e se quebrou.


Veloz e ácida, uma frase em mim permanece. corroendo e vomitando tudo por dentro. sou um mar de lixo, onde bóiam os ratos que procuram um pedaço de fungo. estás por toda a parte. marcando em grandes cartazes brancos, manchados de vermelho, as letras do teu nome. eu destruo a cidade-mulher na minha frente. não tenho culpa. nunca há culpa. ah. há?
Conjunto de palavras que trazem milhões de papéis picados. papéis cheios de tudo aquilo que deixei escapar pelos dedos. dedos melados,não de gozo, mas de saudade. porções mínimas de contentamento. Enquanto não me ouves, posso gritar. Naqueles sonhos-pesadelos há um quadrado preto. Qual era mesmo tua cor preferida? Bem, preto é mesmo todas elas. Assim como eu sou todo o amor de todos os homens e mulheres que te amaram. Sou também tudo aquilo que tu esqueceste de amar.
No teu deserto há tanto, mas tanto mar! O problema é que tua sede é por água potável. O muro? Eu destrui. Como Berlim, sabe? Levei meses-séculos para levantar aquele conjunto de tijolos e sangue para depois lamber tudo até o último grão. Pra te ver salvar, meu amor. Mas não adianta. Continuas assim, perdida no teu quarto de cortinas rasgadas.
Eu seria o verme da tua garrafa tanto quanto o brilhante da aliança. E o anel que eu te dei, em que dedo foi parar? Não há mais caminho nem casa. Só pedra. Só pedra. E não é daquelas que vende-se em lojas de materiais de construção e que viram algo altamente inflamável quando em contato com a água, não. Senão eu já teria explodido. Sopa de pedras. Tem aquela história e o meu jantar. Cai, arranha, leva.




não esqueço você.

segunda-feira, 16 de abril de 2007

semi-plágio

- Passou um furacão por aqui.
- Foi? Nem percebi.
- Levou minha casa e livros.
- Ah, desculpe.
- Não há culpa.
- Me senti mal.
- É que não dá pra viver...
- Sem.
- Você.
- O que?
- Nada, me dá um trago?

(..)

domingo, 15 de abril de 2007

cais de caos.



na tua língua, que é tão parecida com a minha, caminhará as diferenças culturais. somos duas almas em um só tom. as ruas que não são minhas mostram tudo aquilo que já li, que já senti o cheiro só por palavras tuas. ouço o grave balançar do vento e o agudo cantar dos pássaros. na desenvoltura da nossa ginga poética. as letras correrão por entre nossos passos, embriagados de um licor tão raro quanto o sono. não desperdiçaremos uma noite sequer com os sonhos, estaremos ocupadas vivendo-os. contemplando o olhar triste da lua para as estrelas. suspirando o amor gélido do rio para com o céu. a dança maluca da lua na água e nossos corações, bailando ao som de Piaf.

ouves a minha loucura caindo no teu chão de mármore gelado? o jazz que vibra do outro lado da cidade é em teu nome. desfaço meus laços e entrego na tua porta tudo aquilo que perdi um dia. cava mais, cava mais. ah, tayná. há tayná. a tayná. não vive sem você, essa lua. nem brilham tanto, as estrelas solitárias. planetas atrevem-se a aparecer, mas aliens levam-os de volta para o seu sacro breu.

não ouse achar que um chá de sumisso é o melhor para nossa gripe. enjôo normal de quem muito se entregou. mate as vontades e escale esse poço de trás pra frente. a linha torta da vida minha, destigüe aquilo que ainda há-de viver-se. o suor preso nas veias, dançará no chão estrangeiro. sinta os ventos do amanhã, que o hoje não presta.

foge.



não despenteies meus cabelos

não desse jeito infantil

tu, que me arrancaste os pelos

morre hoje, nua e vil.


contra as páginas que só passam,

eu escrevi o teu nome

rasguei as linhas, uma por uma

fiz do meu sexo o teu homem.


deixaste nas ruas uma pegada

daquelas que nunca vi

meus pés não cabiam nela

meus pés só andam pra ti


corre pra além de mim

oh nefasta e indolente!

quero-me livre do teu desespero

não sou mais sol, só poente.


com pedaços de poeta quebrado

construo o mosaico da minha parede

cato o teu lixo e beijo os teus calos

ah, tu...



meu destino é mesmo este.

sábado, 14 de abril de 2007

a anti-medicação.


até mais. ou menos. quantas vezes terei de beijar os mesmos pés? na loucura solta em passos de valsa, eu vivo. olhos pra cima e pescoço livre das cordas. tirem de mim o que nunca me pertenceu. oh cores de manhã preguiçosa! mataram meus filhos, um a um. uma imagem devastadora que comia com as pinceladas. camadas e camadas de petrificação do sangue e dos sentidos. estou até o pescoço, entupida de inquietação. comendo letras e rasgando sílabas. num som distante de quem não corre mais. ouves aqueles pássaros mendigando a nossa canção? que coincidência, faltou luz. nos livros me perco entre os nomes. meus amores começam com vogais. na linha do meu caderno há mais vermelho do que em todo o teu corpo. derramo-te por meus póros e lambo o suor que é tu derretida. no caos dessa vida citadina, há mais para se ver do que pra fazer. um leque de inexperiências minhas, todas tuas. essa dor, essa falta d'harmonia não é charme. é cotidiano, querida. quanto mais se cava, mais perto do nada se chega. não deixe que a lua pare de brilhar nem que o céu deixe de ser daquele tom. se comparas membros, não temo. nunca viste mesmo os meus. amor não se pede. já viu alguém fazendo piruetas nos sinais vermelhos e pedindo em troca amor? ou uma placa de um cego em que se dissesse : "por favor, estou definhando há meses e não consigo sossegar o peito que arqueja em dor. ando tão necessitado, mas tão necessitado de amor. pode me ajudar, senhora?senhor?" eu nunca vi nem ouvi falar. mas ando tão cega e surda que pode-se entender...


na nuca minha, gravado o desejo que não pára de salivar em tua pele. fecha a janela, a cortina. não é mulher nem menina. naqueles olhos que não mais brilham o fulgor do novo e a espera do sempre. de traz pra frente, de cabeça pra baixo. as iniciais dando pirueta. e eu nunca mostrarei esses poemas malditos que gritam juntos como um coral de torturados. trituraram minhas vontades e as serviram com pequenas porções de vodca. embriagadas seguem as tuas pegadas. e eu também. sigo o risco branco no céu incolor. vê aqueles dois aviões? vão colidir.



mas não... não...







talvez instalem semáforos no céu.

sexta-feira, 13 de abril de 2007

den battre mon coeur s'est arretê.


não preciso da saliva, quando tenho o amor. porque precisa ser assim? sem palavras, com dor. nas manhãs em que imagino a tua poesia invadindo minhas narinas, me entupo de pó. quero tirar de mim o teu perfume que está imprimido em minha pele. como deixar correr desse jeito? as águas páram e eu costumo dizer que está tudo de pernas pro ar. com o vento balançando minhas veias pra lá e pra cá. o sangue que escorre é tão denso quanto o óleo que mata os peixes. mas é vermelho, vermelho. nas margens do rio que banha meus pés gelados, encontrei pétalas de uma flor. não digo a cor, pra não estragar. alguém já cantou sobre olhos perdidos, alguém já escreveu sobre barulho de corações partindo-se. tudo nesse mundo já foi feito. menos tu. menos tu. tento achar no chão aquelas páginas que rabisquei num dia de chuva qualquer. tenho uma carta também. curta e densa. manchada com um pouco de vermelho. mas você não se importa, não é? desculpa meu modo de falar. assim, tão espontâneo. é que não consigo mais absorver a poesia que me inunda os passos. perdi aquela ginga de poeta que cheirava a Baudelaire. cuspi no céu e uma estrela caiu.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

pierrot.


estou comendo minha própria falta de ar. já reparou nas horas? dias sem medicação me deixam amedrontada. o homem atrás da minha porta tenta conversar comigo mas só fecho os olhos e choro. onde foram parar aqueles balões que comprei outro dia? estão no chão, pisados por minha própria inquietação. não quero rimar. quero tirar de mim tudo aquilo que se pode colorir. perde os teus pincéis que perco os meus cílios. ao vento grito nomes que decorei meses atrás. não desejo, invento. talvez em minhas veias ainda borbulhe o teu sangue, mas quem fez o pacto fui eu. a minha fumaça está mais densa e aos poucos vou descendo pelo ralo. tão vermelha quanto minhas pegadas podem ser. coceira nos braços. mãos lavadas de tanto enxugar. cadê você que não aqui? puxa, é uma saudade daquelas que não se pode medir. comece indagando a vida e você acabará morto. chaves na mesa e estou trancada pra fora. música lenta que vai nadando por mim, mordendo minhas veias e estourando minhas artérias. não feche a boca para calar o silêncio! não, não. não! há tanta negação nas minhas curvas tortas que nem tenho mais força pra levantar da cadeira que nunca sentei. não sei como alguém pode controlar. você. não. eu. no espaço que sobra entre dois miocárdios, há a tentação do nada. retornando a comer as páginas do que fora, por hora, tudo aquilo que se sonhava. a transitividade dos meus verbos continua pedindo por preposições. pontes que liguem meus suspiros aos teus. aparece na calada da noite e me leva daqui. sequestra meus sentidos e traz o êxtase de volta pra mim. quero águas refletoras. páginas limpas de linhas e céus sujos de estrelas. não brilhe tanto, criança, quero teu brilho só pra mim. não havia tanta nuvem no céu há dez anos atrás, não é mesmo? não sei, você nunca esteve aqui e não sei se nosso céu é o mesmo. aí o céu é azul. aí o céu é azul.












eu te desafio a sobreviver.







segunda-feira, 9 de abril de 2007

i can't live with or without you.

quarta-feira, 4 de abril de 2007

rubro.

espera. recupera o fôlego. um suspiro.




quero luas e arpões

beijos loucos dançando alados

páginas de um pó, em toques

arrancando calendários.

sina louca de perseguir

em grande bocejo, leitos

comer as amêndoas brancas da tua pele

descansar um sono eterno, teu peito.

influindo suspiros

caminhando entre vulcões

sorvendo aos sonhos, seiva

veias soltas, perdões.

não esqueça da saudade

guarde em caixas e envelopes

vinho rubro do amor

bebo em largos, largos goles.

segunda-feira, 2 de abril de 2007


caindo demais, somos dois corpos sem direção. os pés tocam no fundo da saudade e sinto rasgar a pele. mesas de bilhar ofertando minha sorte em tacadas. nunca o mundo seria da mesma cor. a piscina é funda demais e eu tento arrancar as pedrinhas do fundo. os dedos no piano envelhecido, mudo. sombras do que nunca poderá se repetir. um poeta babando assim. todas iriam querer. vinícius beija meus lábios como na primeira noite só nossa. meu primeiro homem, ele. sorrisos e manias que guardo num canto escuro. esquecido. é cedo pra mais uma rima. não comece o dia com preguiça. tanta coisa incomum. aqueles gritos que vêm de sei lá onde, fazendo cócegas nas minhas orelhas. silêncios. me perdoe por não decorar aquilo que arqueja em teu peito. não tenho culpa. se fosse um crime eu fugiria da prisão. teu colo de algodão contornando os olhos em chamas. era tudo mais barato, quando a manhã era dourada.

domingo, 1 de abril de 2007

putine putini.

me larga
não enche
você não entende nada e eu não vou te fazer entender
me encara, de frente
é que você nunca quis ver, não vai querer, nem vai ver.

nós em nós.

começando na carne e saindo na ponta dos dedos. inicio um livro sem fim que começa no ponto final. arrastando as lágrimas no asfalto para ouvir a música do evaporar. não beije a parede. não converse com os dedos. é tanta ordem que eu me descubro numa bagunça de suspiros. devaneios. terminando os borrões do lápis a apontar. soltando gritos de adolescência calada. ela te ama, ama sim. não se questione, eu não sou daquelas que precise de um som no meio da noite. ar que é só companhia. maré alta, peguem seus barcos. quem ensina não tira.

4° dia.


- tem um copo aí?
-um copo de quê?
-sei lá, meu.
-não, aqui só tem água.
-porra, eu queria um copo.
-quebraram.
-e os de plástico?
-o fogo derreteu.
-quer um cigarro?
-queria ser fumaça.
-não, obrigada.



é difícil saber quem disse o quê. depois dos substantivos e pronomes roubados, sobram os travessões.