quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007


olhava em direção ao nada, procurando um sentido naquilo tudo que a fazia afogar-se em si. vontade de rastejar por todo mundo procurando o que havia perdido naquele labirinto vermelho de outrora. a aurora chegava a cegar o brilho antigo dos seus olhos cor de amêndoa. as pernas dormentes e o cigarro quase a tocar o filtro. pensava, trabalhando seus músculos oculares por toda a extensão da paisagem. tudo seu, até onde seus olhos conseguissem tocar, era seu. viu, de longe, dois pássaros brincando de voar. o ar caindo por seus pulmões e mergulhando no seu interior. voaria em seu intestino se fosse uma célula. desejava retornar ao ventre. ao lugar divino onde nada soava mal, onde a aurora predominava. talvez ser exilada soasse como uma ótima idéia. "preciso de novos ares. melhor outro cigarro", sussurrou ao seu próprio ouvido. queria sentir o vento transpassar seu corpo como se não fosse nada além de um objeto translúcido. a luz penetrava suas entranhas e cortava sua pele para chegar ao outro lado. os cabelos negros e desengrenhados por conta do vento, dançavam. a lua começava a mostrar o rosto por entre as cortinas. amanhã será um longo dia, pensou ela. escovarei os dentes e esquecerei de tomar banho. escreverei alguns versos no meu bloco novo e acharei um braço aconchegante para passar a noite. o asfalto esfria e minhas pétalas secam.melhor eu ir, já é tarde. e se jogou.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007


sigo as pegadas marcadas com tinta vermelha na minha parede. o sino que tem badaladas sem fim soa nos meus ouvidos mal preparados. ela o algodão que colhe a seiva minha, dos sonhos. tinge minha pele de um rosa delicioso. espalhando amor por entre as frestas no azulejo do meu banheiro. sentindo no toque de cada palavra a corrente de suspiros embriagante. sorrisos são desenhados em meus lábios e só murmuro um nome nos meus sonhos irriquietos. quero soltar fogos e nomear estrelas com o nome dela. tudo numa continuação sem fim. interrogo meus sentidos e perco meu nome nas frases de efeito de alguém. dissolvendo no meu copo a pílula com de rosa rubra. bebo o eco da vida e engulo uma falta. é um lisonjeio ter-te como algo que pertence a meus versos. sonhos azuis de quem muito ama afoga minha cama. sinto as borboletas negras que saltam de meus cabelos entrelaçarem-se no novelo que é o ar do meu quarto.engulo nuvens e vomito palavras de devaneios loucos. trarei a lua em um prato raso de quem muito já se deu. ouço os gritos mudos dos inocentes atrás da casa com cheiro de fome. um olor de flor saltando dos teus olhos, mãos de anjo. tudo de ti e um pouco de mim. sentidos secos. quimeras oníricas pulando dentro de mim. inelutável vontade de cair em braços de algodão. dor de cabeça amenizada por luas novas. roubando estrelas debaixo das unhas e sorrindo para quem quiser ouvir. minha verborragia é tua e quero não mais olhar as estátuas de sal que deixei para trás.