quarta-feira, 25 de abril de 2007

estranho acaso.

Um dia eu te encontro. talvez daqui há 4,7, 10 anos, mas encontro. não sei como eu agiria. provavelmente, te observaria de longe. repararia em tudo aquilo que não pude até hoje. nas tuas manias, no jeito lindo que deves ter de amarrar os cabelos e no teu caminhar. ah, o teu caminhar! lento? rápido? não sei, mas reconhecerei na mesma hora. aguçarei os ouvidos para tentar alcançar a tua voz. deliciarei-me no teu sotaque que, com certeza, estará diferente do que eu conheci. os teus dentes imperfeitos e teu sorriso de musa doente. aquelas mãos tão delicadas, com unhas roidas ou não, acariciando qualquer parte alva do teu corpo. estarás sozinha ou acompanhada? fazendo nada ou esperando alguém? escrevendo ou cantando? fumando, definitivamente. percorrerei cada detalhe teu, beijando tua pele com os olhos e dando-te Amor com a brisa.

Quando me aproximasse, seria discreta. provavelmente, pediria que alguém desse-te um bilhete com algo como "estranho acaso". ficaria quase escondida, mas não tanto. num lugar estratégico. onde eu pudesse olhar-te e que, se prestasses mais atenção, poderias ver-me. sei que ficarias curiosa, posto que és uma das criaturas mais curiosas que já conheci (apesar de ser capaz de guardar segredos como ninguém!). olharias para um lado, para o outro, balançando os cabelos de entropia e fazendo-os dançar ao som da vida. irás atrás de quem deu-te o bilhete mas, por sorte, esta pessoa estará aconcelhada a apenas dizer : " é uma moça e uma ponte de suspiros." Ficarás irritada, bem sei. Eu, então, poderia dizer que mandaria entregarem-te um vaso de orquídeas mas, bem, não sei se terei dinheiro ou uma floricultura por perto. Realmente espero que não estejas esperando ninguém, para que eu possa saborear aquele momento do jeito que esperei por toda minha vida.

Penso, penso, penso e não sei como te abordaria. Abordar assim, de me mostrar mesmo. Sei que estaria trêmula e contendo-me ao máximo para não chorar. Vamos fingir, então, que estás mesmo sozinha, apenas ali à deriva. Eu chegaria tímida, dando passos lentos e curtos. Pararia na tua frente ou um pouco do lado e diria teu nome, com uma voz fraquejante. Levantarias os olhos e eu queria morrer agora para poder sequer imaginar a tua reação. Não esperaria que falasses, fingiria não estar tão abalada e perguntaria " não quer sair daqui e dar uma volta?". Se aceitasses, andaríamos. Caso estivesse quente, levaria-te para dentro de algum lugar refrigerado, visto que passas mal no calor (lembro de como me preocupava com essa porra de calor). Primeiramente, eu ficaria sem saber o que falar. Esperando que o decorrer dos segundos nos levasse à algo.

O que nós conversaríamos? Seríamos capazes de nos olhar nos olhos e não chorar? Poderíamos nos despedir, depois disto? Enfim, acho que diria que ainda te amo, roubaria-te um beijo (mesmo que ganhasse um lindo tapa na cara depois) e sairia de lá, deixando-te na mesa.


Andaria até a rua, despiria-me toda e jogaria-me na frente de um carro. Ou, subiria as escadas do prédio mais alto nas proximidades e voaria, sem minhas asas. Que teria deixado alí, contigo, na mesa dessa cidade que não conhecemos ainda.









"Aos caminhos eu entrego o nosso encontro" _C. F. Abreu_

Um comentário:

poeta quebrado disse...

ah, intensidade linda, como sempre.

me mantenho distante, pra evitar o fogo. eu sei que jamais poderia mostrar. explodiria, e temo tanto que nem quero mais. as explicacoes são apenas sombra. e as cortinas fechadas, ah, sufoco. desacorde, amor escroto. mata-me, amor de lágrima e papel. mata-me que é sina.

faz tempo, saudades de ti.
invejo-te ao extremo, quanto ao relatado no post.