terça-feira, 1 de maio de 2007

arca de não é.


"Noah's ark came to my house one day
With all of his animals and took me away
Oh Noah's ark came to my house one day
With all of his animals and took me away"

_"Noah's ark", Cocorosie
_



Hoje é dia do meu dilúvio e não tenho nenhuma arca. A chuva não molha o chão, eu absorvo com meus póros abertos cada gota suicida. Descendo por dentro de mim. Beijando minha carne vermelha, dessas que tu nunca vais comer. É como cócegas de dor. Vão fazendo-me sorrir pelo fato de afirmarem minha vivência. Até que as gotas suicidas tenham juntado-se, todas, e formado um grande monstro lacrimejoso. Aí, então, transbordo. Vou, involuntariamente, expulsando de mim as mortes líquidas. E é tu, é tu que derramo. E o nível sobe aos meus pés. Meus joelhos marcados de lembranças. Meu ventre, onde imaginei tua língua tantas vezes. Meus seios, onde deitei tua cabeça e fiz-te dormir sem que soubesses. Minha garganta, que fiz sangrar de tanto gritar teu nome por dentro. Minha boca, que te declama versos todas as noites (até nos entressonhos!). Meu nariz, que aspira o teu perfume imprimido na minha pele.Meus olhos, que ainda miram a tua foto no que sobrou. Então, o mundo todo enche-se de ti e ninguém mais pode respirar. Todos te engolem e sufocam. Matas cada um de um jeito que só sabe que já morreu uma vez. Dilúvio meu que é todo teu. Mas não, aqui não tem arca.

3 comentários:

Marcos Angeli disse...

veja o q a chuva deixou
rastros de solidão e calcanhares nus
sente-se em minha cama flutuante
te levarei aos países q não existem
teus pés sentirão a terra firme e teus olhos encontrarão miragens das quais ninguem jamais se lembre de ter visto.

Salve Jorge disse...

Se não tem arca
Há tronco
E se não há tronco
Nesse seu tão dela mar
Agarre-se no ar
Bata as asas
Bem sabes que pode voar
A despeito do peso das águas em suas penas
Tens forças plenas..
Lembras?
Agite-se e erga-se
"Get up, stand up.."
Caminhe sobre as águas
Divinamente
Divida as águas e caminhe no chão
Que há sob todo mar
Só na charfunde
Na lama, enquanto tubarões a cercam
Pois és preciosa demais para estar em uma concha..

Mas em todo caso
Se pesarem por demais os braços
E fraquejarem insistentemente as pernas
E se resignarem as narinas tuas, tão distantes do ar
Hei de chegar num instante
Quase que fulgaz
Para socorrer-te e puxar-te até minha barcaça
Onde poderá queimar ao sol enquanto se recuperas
E farei-te respiração boca-a-boca
Tão somente para lhe salvar
Depois disso teremos remos para seguir
Para onde quer que seja
Jà que tem tanta estrela por aí, Dona Lua..

Salve Jorge disse...

Séria
Serias
Sereia
Ser-te ia
Teia
Sorte seria
Certeira
Só te teria
Sorrateira
Assomaria faceira
Assim à beira
E riria
E seria
Sereia
Da areia
Veria
Teria
Encanto
Do canto
Tanto
Um manto
De estrelas
Um pranto
No mar..
A mar..
Ao mar..
Sereia
Deleite
Se deite
Aceite
Meu colo
No solo
Pelo ar..
Vem cá
Sonhar..