sábado, 19 de maio de 2007

quiet.


" a boca crispada dizendo bem feito"


_ A. Dentini_




ela olhava o céu e parecia que o mundo cobria-se de azul e amarelo. não compreendia como as cores podiam virar um manto.e o vento, que não tinha, seria apenas a alma de um deus que ela ainda não conhecia. andava devagar, porque já tivera pressa. encontrava pessoas com rostos riscados, isto não a assustava mais. de uns meses para cá, Sofia andava meio desencantada com as coisas. nem a primeira estrela no céu lhe fazia ter vontade de pedir algo, fazer um desejo. a verdade é que ela estava cansada. as pessoas tinham sido tão más com ela quando tudo que ela fizera fora amá-las mais que tudo. certa vez uma cigana lhe disse ser 'uma corajosa domadora de unicórnios brancos', mas agora os unicórnios desapareceram e ela ficou só, com uns chifres sangrentos nas mãos. ela queria correr pra longe. correr até não ter mais pernas. mas não conseguia, Sofia estava dopada de remédios que traziam lembranças tão lindas-dóídas que só podia caminhar. às vezes ela encontrava uma pedra. sempre tropeçava, sempre. mas depois pegava cada uma dessas pedras e as guardava no bolso. talvez a ajudassem a terminar como Woolf. Logo lá na frente havia um lago. Pronto, seria lá mesmo.


Mas ao chegar ao lago, e encostar os dedos gelados nos lábios da água, viu um reflexo. Não era o seu, mas viu. Aquilo foi a coisa mais assustadora que Sofia vira em toda sua miúda vida. Ela, naquele momento desistiu de tudo. Ao desistir de tudo, ela acreditou no existir. Mas de longe, muito longe... a voz daquela cigana com cabelos feito noite soava e dizia 'bem feito... bem feito...' Sofia não sabia o que ela queria dizer com aquilo... se o que ela (não) fizera fora bem feito ou se queria aborrecê-la. Sentiu então um calafrio por todo o corpo e correu. Sofia correu.





e corre até hoje.

Um comentário:

poeta quebrado disse...

ah, a cura.
posso contar um segredo?
ela enlouqueceu.
e me deixou aqui
com esse papel desengonçado
e todas aquelas silenciosas linhas cutucando meu céu da boca.

é desespero, Tayná.
é o velho.
tem olhos novos, e o dia é outro.
mas ainda assim é desespero.
e o que poderia ser, afinal?





dois beijos e um abraço forte de saudade.