segunda-feira, 7 de maio de 2007

a musa diluída.


pedaços de pele na calçada. arrasto-me sem querer. presa no mundo dentro de mim. abrigada no umbigo. amargo descendo pela garganta. nem isso dilui tudo. quero explodir. e levar vocês todos comigo. morder o travesseiro e pintar as ruas de vermelho. sujar a frente da tua casa com palavras de dor prazerosa. não sei quem és tu, na realidade. tu, esse (a) pra quem estou escrevendo agora. também não importa, talvez seja eu mesma. subiu da terra um monstro terrível. com dentes afiados para roubar-me o sangue. deixou-me seca e fugiu sem dar adeus. eu me despedi sem ele. bebi o que havia no chão. e aí, morri. acontece que o líquido era a musa diluída. como veneno, infiltrou-se nas minhas vias. deixou-me tão doente que acabaram por costurar minha boca para que eu não mais sorrisse. meus dentes calaram-se.

até que em minha garganta meteram o dedo. eu solucei tanto até te vomitar! tive convulsões e desmaios mas, por fim, vomitei. Não saiste toda, é verdade. Mas hoje só te quero como a lembrança de algo que foi do falso ao vital.






Hoje, eu renasci.

3 comentários:

Salve Jorge disse...

Minhas lágrimas não se emparelham com as suas
Sequer são salgadas
São apenas um invólucro pra saudade
Imediata..

Quando esvanesses no ar
Assoma em minhas sinapses
Transportando meu ar
Para os seus passos
Muito sei de seus laços
De seus traços surrealistas
De suas políticas impressionistas
Mas nem tanto de seus passos
Mesmo aprisionado em seus traços
E me aconchegando em seus braços
Ah braços..
Nesse mormaço..
O que faço? Além de me aninhar..

Assistindo seus relógios derreter
E as emoções que sabes verter
Quero devorar teu cotidiano
Seu método insano
De apreciar o viver
Sua poética estilística
E sua métrica confusa
Minha musa profusa
De sabedoria sofística

Com meus cabelos derramados em seu peito
Tendo seu arfar como meu leito
Quero escutar seu penar
E seu sonhar
E até seu canto
Mesmo que venha logo um pranto
Meus cabelos molhar
Escutá-la até só restar o silêncio
Um silêncio eloqüente e íntimo
Entre dois eternos amigos...

Anônimo disse...

também prcizava de renascer, de todos os suicídios em fila de espera.

(fantástico. *)

Henrique Rodrigues disse...

Oi.
Cheguei aqui procurando no google sobre o meu livro de poemas "A musa diluída" (Record). Texto bonito. Parabéns.
Henrique