quarta-feira, 9 de maio de 2007

primeira carta para nunca ser entregue.



"O corpo da amiga na sombra é um mistério de Deus
É teu corpo, amada? são teus seios, é tua clara clara risada
Na sombra? não fujas... és um... um nenúfar
Aberto à água mansa."
_V. de Moraes_




Eu só estou escrevendo porque eu precisava dizer que se você aparecesse hoje eu ia te dizer tanta, mas tanta coisa. Porque eu tenho um monte de coisas pra falar mas eu sei também que quando você aparecesse eu ia ficar tão nervosa que todo esse monte de coisas que eu tenho pra falar desapareceriam como balão de gás em forma de coração no céu.

É que eu preciso de você. É, acho que esse é o principal. Eu preciso de você. Mas não é aquele preciso igual eu precisava chupar o dedo pra dormir. É um precisar como quando eu era bebê e precisava do leite da minha mãe pra viver. Um precisar que depois de um tempo passa. Mas enquanto esse tempo não chega, é mais necessário que qualquer coisa, entende?

Tem vários negócios que você precisa saber. E eu estou falando nessa linguagem de dia de semana porque é assim que as coisas vão saindo. Então, esses negócios não são coisas sérias. São bobagens que acontecem na minha vida que eu gostaria de compartilhar com você. Como, por exemplo, no dia em que eu sonhei com você e que a gente andava por um parque de diversões e você tinha medo de ir na roda gigante. Aí então, eu tirava forças de não sei onde, e te carregava (e você ia se debatendo toda nos meus braços) e te levava até a roda gigante, que tinha os bancos em forma de morango. Estávamos nós no banco de morango e eu começava a te mostrar a cidade. Cidade essa que não sei qual era, mas no momento era a minha cidade. Te mostrava tudo, tudinho mesmo. Você olhava e depois fechava os olhos e agarrava as minhas mãos porque estava morrendo de medo daquela altura toda. Quando saímos de lá, fomos comprar sorvete. Você comprava um de um sabor que eu não conhecia e que só existia lá naquela cidade que era minha. Não me pergunta como você conhecia esse sabor que nem eu sabia. Você se lambuzava toda e eu tinha que limpar com a barra da minha blusa porque a gente tinha esquecido de pedir lencinho pro moço do sorvete. Nós andávamos por lá. Depois fumávamos olhando pra praia - porque o parque era na beira da praia- e você dizia 'meu, eu queria mesmo era ser uma onda'. E eu acordei.

Então, são negócios bonitinhos como esses que eu quero te contar. Sem falar que preciso saber como você está. Sei que deve estar alegre nos músculos do moço-que-eu-não-devia-nem-ter-mencionado, mas eu sei que às vezes você deve ter seus momentos de fossa. Aqueles momentos em que dá vontade de ligar o foda-se pro mundo. Ou aqueles outros em que só se quer abraçar o travesseiro e chorar. Mesmo que só por dentro, como eu. Queria que você soubesse que em momentos como esses você pode me ligar. Nem que seja pra ficar caladinha enquanto eu tagarelo ou mesmo que fiquemos, as duas, num silêncio só, ouvindo a respiração até que se acabem os créditos. E se você não tiver créditos pra me ligar, pode me dar um toque a cobrar, eu arranjo um jeito de te ligar, nem que eu leve uma surra da minha mãe depois. Não me importo, realmente. e ah! você pode me ligar também quando estiver pulando de alegria e tiver vontade de contar pro mundo todo, inclusive pra mim, o quanto você está feliz. Eu posso estar lambendo o fundo do poço na hora, mas sorrirei de volta porque a sua felicidade paga a minha fiança. Fiança essa da Cadeia da Tristeza Profunda.

Eu acho que era isso que eu queria dizer. Espero que você leia isso aqui um dia, porque eu sei que nunca vou mandar pelo correio e nem amarrar na patinha de um passarinho pra bater na tua janela e te fazer acordar. Vou deixar aqui, pra quem tiver paciência, ler. Talvez um dia você caia nesses lados e pare justamente aqui. Se o fizer, me deixa saber.

Um comentário:

Salve Jorge disse...

Salve salve Giralua...
Sabe a sua foto do orkut?..
Queria me encostar naquele parede com você..
Esconder as lajotas com meu dorso
E esconder meus olhos de soslaio
Ficar dali paralizado
Compenetrado apenas em você..
Adorando estar à sua mercê
Mesmo estando ciosa da máquina
Fotográfica
Cutucaria-te o ombro
E ririas por me ignorares de maneira tão forçada
E eu riria pois de tudo já sabia
E riríamos, como rimos...
Tiraríamos fotos
De nossas caretas felizes
Dessas forças motrizes
Que alimentariam nossa danação
Seria eterno no tempo essa fração
Um tempo aprisionado e só nosso
Ô troço.. será que posso
Ser tão descabido nos sentimentos
Permita-me louvá-la
Lamber suas asas
Que já não sangram tanto
Diminuiu o pranto
Mas só aumenta o encanto
Com que me fustigas
Pegar-te-ei pelo colarinho branco
Ajeitando-o como se fosse necessário
Até a timidez fazê-la olhar pra baixo
Obrigando-me a levantar teu rosto
E desfazer tua venda
Embriagar-me com tudo que inventa
E sorver-te por não estares pronta
Nunca estarás, sua tonta
Sempre haverá o que nos afronta
Mas daremos conta
Maduros ou verdes
É isso que ensino, aprendo e prevejo
Viver.. quem viver, verá
Não há código
Não há acerto
Nem certo, nem reto, nem teto, nem presto
A verdade é uma mentira convicta e teimosa
Menor que nossa prosa de mentiras tão sinceras
Ame-me por não ter o que fazer
Ame todas as que vierem
Ame por só poder amar
Poder...
Amar...
Pode ser...
Há mar...
Pois descer...
Ah, mar...
Padescer...
Ao mar...