quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007


olhava em direção ao nada, procurando um sentido naquilo tudo que a fazia afogar-se em si. vontade de rastejar por todo mundo procurando o que havia perdido naquele labirinto vermelho de outrora. a aurora chegava a cegar o brilho antigo dos seus olhos cor de amêndoa. as pernas dormentes e o cigarro quase a tocar o filtro. pensava, trabalhando seus músculos oculares por toda a extensão da paisagem. tudo seu, até onde seus olhos conseguissem tocar, era seu. viu, de longe, dois pássaros brincando de voar. o ar caindo por seus pulmões e mergulhando no seu interior. voaria em seu intestino se fosse uma célula. desejava retornar ao ventre. ao lugar divino onde nada soava mal, onde a aurora predominava. talvez ser exilada soasse como uma ótima idéia. "preciso de novos ares. melhor outro cigarro", sussurrou ao seu próprio ouvido. queria sentir o vento transpassar seu corpo como se não fosse nada além de um objeto translúcido. a luz penetrava suas entranhas e cortava sua pele para chegar ao outro lado. os cabelos negros e desengrenhados por conta do vento, dançavam. a lua começava a mostrar o rosto por entre as cortinas. amanhã será um longo dia, pensou ela. escovarei os dentes e esquecerei de tomar banho. escreverei alguns versos no meu bloco novo e acharei um braço aconchegante para passar a noite. o asfalto esfria e minhas pétalas secam.melhor eu ir, já é tarde. e se jogou.

Um comentário:

Salve Jorge disse...

Por mais tarde
Sempre o que arde
Dista da origem
Só salva essa vertigem
Da queda